O ano começa e junto surge a lista de resoluções de Ano Novo. Uma que deve ser tirada do papel e colocada em prática é a organização das finanças pessoais, uma vez que esse arranjo vai facilitar a execução de outras metas.
E para colocar as contas em ordem, primeiro é necessário reconhecer em que estágio cada pessoa se encontra. É possível fazer uma divisão em três grupos: os que estão endividados; quem não deve, mas também não consegue poupar; e aqueles que possuem uma folga no orçamento destinada aos investimentos.
Para todos esses, há um passo em comum na hora de fazer o planejamento financeiro: saber exatamente o quanto recebe e o quanto gasta.
Pode parecer bobagem, mas muita gente faz as contas sobre o orçamento doméstico considerando o salário bruto (sem os descontos como o do Imposto de Renda) ou, no caso de profissionais liberais, sem considerar o pagamento dos impostos sobre as notas fiscais emitidas.
Depois de saber a renda disponível, é necessário descobrir o quanto se gasta. Além dos grandes gastos (moradia, alimentação, transporte e educação), é possível também listar os “miúdos”, como assinaturas de streaming, pacote de serviços da conta corrente (sim, há quem pague por isso), deliveries de aplicativo.
“Se a pessoa não sabe nem para onde vai o dinheiro que ganha, ela não vai conseguir controlar. E para controlar, é preciso registrar isso”, diz Leticia Camargo, planejadora financeira CFP.
Endividados
Uma compra parcelada aqui, um financiamento ali e de repente a pessoa se depara com um nível de dívida que abocanha uma parte significativa de sua renda. Parte dessas pessoas não dá conta de pagar e ainda fica com o “nome sujo”, negativado.
Controlar esse endividamento ou quitá-lo só será possível se o consumidor souber exatamente o quanto deve. É hora de colocar todas as dívidas no papel e, se houver contas em atraso, checar o valor real desse rombo, uma vez que os juros por atraso farão esse montante subir (e muito).
O passo seguinte é, no orçamento doméstico, ver o que é possível cortar ou restringir para que o consumidor tenha fôlego para quitar essas dívidas. Reduzir os gastos com lazer e alimentação fora de casa e trocar o plano do celular ou TV por assinatura por opções mais em conta podem ajudar nesse fôlego.
Camargo aconselha a checar as condições de cada instituição para a quitação desses débitos, priorizando as que oferecem condições melhores. Para quem vai pagar à vista, é possível negociar descontos, em especial para quem já está com o nome nos cadastros de restrição de crédito.
“O melhor é juntar algum dinheiro para ter uma proposta para pagar à vista ou uma entrada maior. Assim, será possível conseguir uma negociação melhor”, diz Camargo.
Outra dica é, na hora de negociar, nunca aceitar a primeira oferta da instituição financeira e fazer uma contraproposta.
Se a dívida é alta, mas o consumidor não está com o nome negativado, uma alternativa é tentar fazer a portabilidade para uma outra instituição que ofereça condições melhores.
Nesse período, Carlos Eduardo Costa, educador financeiro do Banco Mercantil, lembra que o consumidor deverá se comprometer a não fazer novas dívidas, já que o objetivo é quitar as antigas. Isso também vale para as pequenas parcelas das compras feitas com cartão de crédito. Um gasto de até R$ 100 pode parecer pequeno, mas ao fazer várias compras parceladas, ao final do mês, o comprometimento com essas dívidas miúdas será significativo.
“A compra parcelada pode ser uma armadilha. Só deixa de ser quando a pessoa aceita que não pode assumir um outro compromisso”, diz.
Sem sobra para investir
Chegar ao final do mês sem dívidas ou com as dívidas pagas é um alívio. Mas como melhorar isso e conseguir investir?
Camargo lembra que um dos erros é esperar o mês acabar para ver se vai sobrar dinheiro ou não. O ideal, nesse caso, é fazer a aplicação assim que o salário caia na conta.
Para ajudar na criação desse hábito, a planejadora financeira aconselha a pensar nos objetivos que a pessoa tem e que serão proporcionados por essa poupança que ela começará a construir.
“Às vezes a pessoa está gastando com o que não é importante e aí falta dinheiro para o que é importante”, diz
Aqui, vale a mesma dica dos endividados: veja o que é possível cortar ou reduzir nos gastos. Abrir mão de pequenos custos diários podem fazer diferença no mês.
Rosi Ferruzzi, planejadora financeira CFP pela Planejar, lembra que ao começar a guardar dinheiro, o primeiro objetivo deve ser a formação de uma reserva de emergência. É esse dinheiro que vai garantir que, em uma emergência, não seja necessário fazer uma nova dívida.
“Ter uma reserva deve ser o primeiro passo. Depois, é hora de pensar em guardar dinheiro para outros projetos, como a compra de um bem ou a longevidade”, conta.
E como toda a criação de hábito, haverá algumas escorregadas no meio do caminho, mas o importante é persistir até que o ato de investir seja natural.
Tudo sob controle
Quem está nesse grupo não perde as noites de sono pensando em dívidas e também já tem o hábito de reservar uma parte da renda para os investimentos. Esse hábito vai ser muito mais efetivo se o investidor souber para o que está guardando esse dinheiro.
Uma debênture que pague IPCA mais 6,7% ao ano é um bom investimento? Isso vai depender muito se o objetivo desse investidor é de curto, médio ou longo prazo. Esse papel, no caso, é de uma concessionária de rodovias e tem prazo de vencimento em dezembro de 2030.
Por mais atrativa que a rentabilidade seja, o investimento não é adequado para quem está formando a reserva de emergência ou tem um objetivo de curto ou médio prazo.
“A pessoa precisa saber quais são os objetivos dela, horizonte que ela quer realizar isso e o risco que está disposta a correr. Depois disso, precisa diversificar. Essa é a palavra-chave”, diz Fernando Donnay, sócio da gestora de patrimônio G5 Partners, ressaltando que essa diversificação deve considerar as classes de ativos e a variação entre os diferentes ativos de cada classe.
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