O ciclo da pobreza é difícil de ser quebrado. O sistema no qual estamos inseridos privilegia quem tem mais acesso, abrindo portas e garantindo bons empregos. Para os demais, é preciso se esforçar o dobro, ou o triplo, para conseguir uma posição relativamente boa no mercado.
Isso acontece porque as pessoas pertencentes às classes mais baixas têm que, desde muito cedo, vender sua força de trabalho em empregos essenciais para o funcionamento da sociedade, mas que pagam muito pouco pela sua realização.
É o caso de profissionais da área da limpeza, da reciclagem, motoristas, atendentes, caixas, dentre outros. A vulnerabilidade social e a insegurança alimentar atingem desde crianças até idosos, sem poupar nenhuma faixa etária.
Para sair desse ciclo, um dos caminhos é a educação, mas muitos não conseguem ter acesso, já que precisam começar a trabalhar ainda na infância para complementar a renda da família.
Além disso, as instituições educacionais que os jovens das periferias frequentam tampouco podem ser comparadas com as dos jovens de classes média e alta. É preciso correr contra o tempo, trabalhar meio período (ou mesmo em regime integral) e dar conta dos estudos no contraturno.
Tudo se torna ainda mais difícil quando a pessoa não tem um teto. Como ela teria chances de conseguir uma vaga na universidade ou mesmo em um emprego, se não tem endereço fixo? Como se aplicar aos estudos sem um ambiente preparado para isso?
O bancário Ubirajara Gomes acredita que a educação é, sim, uma ferramenta de transformação, e apresenta uma história de sucesso, mesmo sofrendo com a vulnerabilidade. Segundo reportagem do G1, ele viveu mais de 12 anos nas ruas de Recife (PE), mas decidiu mudar de vida e, após anos de estudos, conseguiu ser aprovado e convocado em um concurso do Banco do Brasil.
Para ele, o conhecimento é a única coisa que não pode ser tirada de alguém. Ubirajara explica que começou a morar nas ruas do centro da sua cidade depois de brigas familiares, mas que sempre soube que era apenas com a educação que conseguiria mudar aquela realidade de dormir nas calçadas dos hospitais recifenses.
Conseguir esse feito não foi fácil, ele precisou, primeiro, ser aprovado no supletivo para, só depois, disputar a vaga de bancário. As bibliotecas públicas eram seu principal refúgio para conseguir estudar, ele frequentava qualquer uma com acesso liberado e costumava consumir todo tipo de conteúdo, desde livros a jornais. Frequentou a biblioteca pública do estado, a biblioteca da Universidade Católica de Pernambuco, a biblioteca do Senai e do Sebrae, qualquer uma era boa opção.
Ubirajara parou de estudar no sexto ano do ensino fundamental, e quando precisou retomar os estudos, conseguiu concluir o nível médio por meio do supletivo. Essa foi a opção que encontrou porque, na época, já estava fora da faixa de idade para terminar o ensino básico. O ritmo não era fácil, ele precisava estudar à noite e se alimentava da merenda que sobrava do pessoal da tarde, quando sobrava.
Em 2006, ele conquistou o certificado de conclusão do ensino médio e, em 2007, começou a fazer várias provas de concurso. Uma nova rotina de estudos precisou começar, e Ubirajara passou a se dedicar por completo a esse novo objetivo, contando com a bondade e a ajuda das pessoas que o conheciam.
No dia da prova do Banco do Brasil, ele contou que tinha apenas R$ 2 no bolso, que usou para comprar uma caneta e um bombom. Para chegar ao local do exame, caminhou 27 quilômetros, já que não tinha dinheiro para pagar por nenhum tipo de condução.
Ao fim da prova, ele precisou voltar os 27 quilômetros que tinha andado, e novamente fez o percurso a pé. O resultado do esforço não demorou a aparecer – das 150 questões, ele errou apenas 17. No meio de 2008, Ubirajara foi convocado para assumir o cargo de bancário na cidade de Águas Belas, interior de Pernambuco, assinando a carteira oficialmente e recebendo um bom salário.
A partir desse momento, ele conseguiu alugar uma casa e conquistar as demais coisas que todos os indivíduos esperam obter ao longo de sua vida, uns quase sem fazer nenhum esforço, outros dando suor e cansaço no processo.
Quem acha que o bancário conquistou tudo o que queria se engana. Ubirajara agora deseja fazer o ensino superior e se aventurar na bolsa de valores, de preferência, mudando-se para o Rio de Janeiro ou São Paulo.
Fonte: https://osegredo.com.br/depois-de-12-anos-vivendo-nas-ruas-homem-passa-em-concurso-e-vira-bancario-queria-mudar-de-realidade
0 Comentários