Ir ao supermercado virou um verdadeiro pesadelo para os brasileiros nos últimos meses. Nos últimos 12 meses, alimentos e bebidas subiram 12,85%, segundo dados do IBGE. No mesmo período, a inflação oficial do Brasil cresceu 12%.
Itens básicos como pó de café (62%) óleo de soja (30%. Já produtos como tomate (117%) e cenoura (195%) viraram quase artigos de luxo para o grosso da população.
Autoridades econômicas reunidas no Fórum de Davos disseram que o mundo vai precisar se acostumar com uma "inflação mais longa". A conta mais conservadora é que os preços sigam altos até 2024 pelo menos.
Temos algumas explicações para esse fenômeno global. Quebra na cadeia de suprimentos, que ainda não se recuperou da pandemia, e a guerra na Ucrânia (que mexeu no mercado de commodities de alimentos e energia, dois setores que mais sentiram a alta dos preços nos últimos anos), são algumas delas.
A perspectiva para o Brasil não muito positiva. "Aqui, a inflação vai continuar surpreendendo negativamente até o fim do ano. O BC não tem controle. No Brasil, inflação se acelerou mais rápido que no mundo principalmente por causa da desvalorização do real. Aliado a isso, na recuperação da pandemia, estímulos monetários, demanda voltou mais rápido que a oferta. A expectativa era a de que os gargalos logísticos iriam se normalizar no meio do ano. Não vai acontecer", diz Josilmar Cordenonssi, professor de Finanças do Mackenzie.
Inflação que ataca várias 'frentes'
Uma situação problemática é que o tipo de inflação que vivemos é uma que ataca diversos setores da economia, dificultando a tarefa das autoridades monetárias em debelar a escalada dos preços. Segundo o IBGE, o chamado índice de difusão passou de 76% em março para 78,2% em abril, o maior desde janeiro de 2033, quando ficou em 85,4%. "Quem mais vai sentir será o setor de serviços [o que mais emprega no Brasil], sobretudo bares e restaurantes. Quem está voltando ao escritório, deve levar mais comida de casa para evitar comer fora e gastar mais", opina o professor.
Sobre o preço dos alimentos, muito vem se questionando se o governo poderia ter feito algo para que o preço não pesasse tanto no bolso do consumidor final. O Ministério da Economia anunciou na segunda-feira (23) a redução em mais 10% das alíquotas do Imposto de Importação sobre quase 6,2 mil produtos, incluindo feijão, carne, massas, arroz, além de materiais de construções.
"No curto prazo, você poderia ter um imposto de exportação para ficar menos rentável para o exportar e ele focar as necessidades internas. Depois disso, você inibe o crescimento da oferta, o que faz os preços subirem de novo. O governo deveria mesmo dar um subsídio para o gás de cozinha, reforçar o Auxílio Brasil, mas o programa não tem um bom foco. O Bolsa Família era melhor isso", diz Josilmar Cordenonssi.
Preços não vão 'voltar ao normal'
Para piorar, os preços não devem "voltar ao normal", como milhões de brasileiros sonham. "Não vai cair. Eles vão crescer menos. Cenoura e tomate, por exemplo, são também problemas de oferta, climáticos. No curto prazo, de uma maneiras geral, os preços não tendem a cair. Tudo piora com o petróleo e a guerra na Ucrânia. O barril pode voltar a 80 dólares com o fim do conflito ou a saída de Putin do poder. Não é isso que está se desenhando. Como o combustível é uma variável chave para a economia mundial, a expectativa é que a inflação perdure por um bom tempo. Os lockdowns na China também atrapalham o processo", diz Josilmar Cordenonssi, professor de Finanças do Mackenzie
O especialista aponta que as commodities, vulneráveis ao humor dos mercados externos, são as que mais vão pesar no bolso do brasileiro, como arroz, soja e trigo (este bastante influenciado pela guerra). Os dois países exportam cerca de 30% do trigo, 19% do milho e 80% do óleo de girassol consumido globalmente. "Todos os produtos que exportamos, como carne de boi e frango, tudo tende a subir. Ovos [que subiu 16% nos últimos 12 meses) e feijão devem subir menos . O preço internacional contamina nosso preço doméstico. Não temos muito controle", conclui.
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