BDR cai na boca do brasileiro e deve atrair os investidores do mercado de ações




Qual é o sentido de investir apenas no Brasil?

As autoridades reguladoras do mercado de capitais vêm trabalhando para ampliar o leque de produtos de investimentos para além dos ativos tradicionalmente conhecidos pelos investidores brasileiros. Exemplo disso é a chegada dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que existem desde 2010, mas só começaram a ficar populares no país no ano passado, quando foram disponibilizados para todos os investidores em geral.

O tema foi debatido durante a abertura do BDR Day, evento promovido pela IP Capital Partners, que contou com a presença do presidente da Bolsa de Valores, a B3, Gilson Finkelsztain.

Basicamente, os BDRs são certificados negociados na bolsa brasileira que representam ações emitidas por empresas de outros países. Em outras palavras, nada mais são que valores mobiliários lastreados em papéis de companhias estrangeiras que, desde 2020, ficaram disponíveis no Brasil.

Até setembro do ano passado, esse tipo de investimento era restrito ao investidor qualificado, ou seja, apenas instituições, fundos ou pessoas com mais de R$ 1 milhão em investimentos tinham acesso aos BDRs. Em uma tentativa de tirar o mistério do investimento no exterior e aumentar a capacidade de diversificação dos brasileiros, porém, a CVM flexibilizou as regras e abriu espaço para que as pessoas físicas tivessem a possibilidade de investir neste produto.

Gilson Finkelsztain, da B3, lembrou que, historicamente, era comum ter certificados de empresas brasileiras disponíveis no mercado dos Estados Unidos. Agora, no entanto, acontece o caminho inverso: companhias americanas têm seus recibos disponibilizados no Brasil. “A entrada desse instrumento no mercado brasileiro facilita o acesso dos investidores a outras variedades de produtos internacionais, uma vez que se trata de uma alternativa simples, ágil e barata”, afirmou.

Os BDRs caíram no gosto das pessoas físicas?

Apesar de considerar que o Brasil ainda está iniciando a disseminação de informação acerca dos BDRs, assim como a possibilidade de diversificação que este produto dá ao investidor, o presidente da B3 vê bons frutos mais à frente.

“A jornada da renda variável brasileira tem sido bacana. Nós ficamos 15 anos estagnados em número de investidores, mas de 2017 para cá o cenário começou a mudar e alcançamos um milhão em 2018. Hoje, nós já batemos quatro milhões de contas na renda variável”, ponderou.

De certa forma, na visão de Finkelsztain, esses dados mostram que o investidor mais atento se educa com mais facilidade e busca por novos produtos, como os BDRs e, até mesmo, os BDRs de ETF, e entendem que são uma forma de investir em ações estrangeiras com mais segurança e transparência.

O presidente da B3 avaliou, porém, que o brasileiro ainda é muito concentrado nos investimentos locais, até mesmo por um certo desincentivo da renda fixa. “Antigamente nós tínhamos um juro real muito alto, com maior liquidez nos títulos públicos, então era muito fácil e, por isso, não fazia muita diferença correr risco em outros ativos”.

Mas, para o país crescer, a percepção dos investidores precisa mudar, pontuou Finkelsztain. “Testamos, recentemente, o juro real negativo. Nos próximos anos vamos aterrizar em um patamar mais estável, com juro real entre 3% e 4%. Então, essa diversificação vai entrar na agenda dos investidores, que começam a tomar gosto por produtos diferentes”.

Em relação aos números, o presidente da B3 acrescentou que existem quase 300 mil investidores em BDRs, sendo a maioria formada por pessoas físicas, conforme dados do início do mês de outubro.

“Já temos mais de 800 BDRs disponíveis na prateleira do investidor e a liquidez tem crescido constantemente. O giro diário era de R$ 120 milhões no terceiro trimestre do ano passado, por exemplo, e agora já passa de R$ 400 milhões até o último mês. Então, rapidamente, vamos passar de R$ 500 milhões de giro diário, valor que só mostra que o BDR está, sim, caindo no gosto dos brasileiros”, afirmou.

O número de investidores em BDRs deve alcançar o de ações?

Finkelsztain considera que dá para vislumbrar um cenário em que o número de investidores em BDRs se aproxime do número de ações. “Nada justifica que o investidor mantenha 90% da sua alocação em um único país. Já falamos de globalização, as fronteiras já foram derrubadas há muitos anos. Hoje, estamos falando de uma coisa que pode acontecer de forma simples e rápida”.

O executivo admite, entretanto, que ainda vai levar um tempo até que isso aconteça. “Querendo ou não, o investidor se sente mais confortável ao investir em negócios que ele já conhece, até por entender a dinâmica de onde a empresa está operando”, ponderou. “Eu acho que, naturalmente, e aos poucos, as pessoas vão adquirir um pouco de cada produto de investimento”.

Sobre os números de investidores na bolsa, que alcançou a marca de quatro milhões neste ano, Finkelsztain vê como potencial para a chegada de novos entrantes nos BDRs. “Esses investidores vão, paulatinamente, migrando e começando a experimentar o mercado de BDRs, até porque é uma coisa simples e fácil, que dá para investir com valores abaixo de R$ 100. Exemplo disso é que, há dois anos, o investimento médio na bolsa era de R$ 1,5 mil e agora já está em R$ 250. Isso também vale para a trajetória que o BDR deve percorrer no curto e médio prazos”.

Fonte: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/noticia/2021/11/09/bdr-cai-no-gosto-do-brasileiro-e-deve-atrair-os-investidores-do-mercado-de-acoes.ghtml

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